Espingarda calibre 12 com a qual o suspeito teria disparado contra turistas em quiosque em Caraguatatuba
A polícia de Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo, investiga se o ex-detento de 38 anos que usou uma espingarda calibre 12 para atirar em turistas em um quiosque na Praia Martim de Sá se dirigiu ao local com uma submetralhadora ou até mesmo uma metralhadora horas antes. Depois de ter feito um único disparo, o homem foi perseguido e morto com vários tiros. Ao menos seis pessoas, sendo quatro turistas, foram feridas atingidas por esferas do cartucho da espingarda. Os crimes ocorreram na segunda-feira (15), feriado da Proclamação da República.
Homem é encontrado morto em CaraguatatubaHomem levou tapa na cara antes de disparar em quiosque, diz políciaO ex-detento, de acordo com o delegado Maurício Havener, se envolveu em uma discussão e acabou levando um tapa na cara de um frequentador do quiosque, por volta do meio-dia. O motivo foi o assédio do ex-detento a mulher de um cliente. Devido a isso, o homem, que estaria embriagado, retornou para sua residência, em uma rua próxima, onde pegou a suposta metralhadora, de acordo com o delegado, e em seguida voltou para o quiosque, por volta das 13h30.
“Existem vários depoimentos neste sentido. Por isso, não é possível falar em um caso de histeria de algumas pessoas. Várias pessoas disseram que ele estava com uma submetralhadora ou mesmo uma metralhadora. Ele foi desarmado não se sabe por quem. Estamos investigando essa possibilidade também”, afirmou o delegado.
Mais tarde, por volta das 18h, o suspeito retornou novamente ao quiosque, desta vez com a espingarda calibre 12. O filho do ex-detento, um adolescente de 17 anos, relatou em seu depoimento à polícia que tentou impedi-lo de retornar ao quiosque. Lá, o homem disparou um tiro contra um grupo que participava de uma roda de samba.
Perseguição
De acordo com os relatos, “uma multidão” passou a perseguir o atirador. Segundo uma testemunha, ao menos dez pessoas foram atrás do homem. Ele foi alcançado já próximo de onde morava. Segundo o delegado, começou a fuga correndo e depois tentou concluí-la, sem sucesso, de bicicleta.
“Pelos depoimentos, ele fugiu a pé, mas pelo croqui (desenho) da perícia tinha uma bicicleta caída onde havia a frenagem de um carro. Ele foi alcançado quando estava de bicicleta, já na rua da casa onde morava, levou um tiro no braço e caiu. Tentou fugir a pé novamente e foi alvejado por vários tiros. Ele não chegou a ser atingido pelo veículo”, disse Havener.
O delegado lamentou o assassinato do suspeito. “Por mais grave que tenha sido o ato dele, ninguém tinha o direito de tirar a vida dele com vários tiros na cabeça”, declarou.
A polícia solicitou exames para saber por quantos tiros o atirador foi atingido, qual o tipo e o calibre da arma e se todos os disparos partiram do mesmo armamento. O filho da vítima relatou à polícia que chegou a ouvir os disparos que mataram seu pai, mas que não viu o autor.
Dos seis feridos, apenas um morador da capital que foi baleado no braço precisou passar por uma intervenção cirúrgica no PS da Casa de Saúde Stella Maris. Ele permanecia internado em observação na tarde desta terça-feira, sem previsão de alta, de acordo com a assessoria de imprensa do hospital.
O delegado afirmou que conversou com o turista no hospital na manhã desta terça. “Ele disse que chegou ao quiosque às 16h com um amigo, que também foi atingido, mas sem gravidade. Ele disse que não viu quem atirou e não soube dizer o que aconteceu momentos antes”, disse o delegado. Os demais sofreram ferimentos leves. Ninguém tinha sido preso até às 15h desta terça. Apenas a espingarda calibre 12 foi apreendida.
De acordo com a polícia, o ex-detento era natural de Botucatu e vendia artesanato na praia. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, ele cumpria pena de 16 anos por roubo, estupro e atentado violento ao pudor no presídio de Presidente Prudente, mas estava em regime aberto desde o início do ano. O atirador também tinha sido julgado por outros dois crimes: tentativa de homicídio e roubo, em dois processos diferentes.
Fechado
Nesta manhã, o quiosque 13A da Praia Martim de Sá, uma das mais movimentadas de Caraguatatuba, estava fechado devido à chuva que castigava o litoral desde as primeiras horas do dia, que afugentou os turistas. No local, havia apenas uma funcionária que havia presenciado o tumulto do dia anterior. Clarice, que pediu para não ter o sobrenome divulgado, relatou que estava dentro do quiosque, quando ouviu o disparo.
“Foi por volta das 17h30, por aí. Tinha muita gente aqui, umas cem pessoas. Estavam tocando pagode e algumas mulheres estavam dançando. Parece que a briga começou por causa disso, por causa de mulher. Ouvi o barulho, mas não sei quantos tiros foram. E depois ouvi o povo gritando, correndo, todo mundo desesperado”, contou.
Funcionária do quiosque há 20 anos, Clarice disse que não é comum ocorrer brigas no local e que não está assustada. “Acho que não vai voltar a acontecer uma coisa dessas. Não abrimos hoje ainda por causa da chuva. Com chuva, não tem freguês. Mas ontem, depois de tudo o que aconteceu, ficamos abertos normalmente”, disse.
Na residência do ex-detento, localizada a cerca de quatro quadras do quiosque, familiares da vítima se recusaram a falar com o G1. Do lado de dentro, sem abrir o portão, apenas pediram respeito e que tinham perdido um “parente muito querido”.